terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Dificuldades por externar sua opinião...

Você deve manifestar-se com a sua cabeça,  ou conforme o que acham os outros?

Muita gente gostaria muito de manifestar a sua opinião, de externar os resultados de pesquisas que realizou, de passar a sua experiência para apreciação de outras pessoas, mas terminam ficando com medo de fazerem. Muitos dizem o seguinte: “para evitar confusão e maiores aborrecimentos, prefiro ficar aqui na minha e deixar a coisa como está”.
            Muitas pessoas têm coisas maravilhosas a nos dizer, experiências de vida brilhantes a nos passar, experiências que se externadas certamente poderiam ajudar a muita gente; mas, lamentavelmente, por causa das dificuldades que enfrentam aqueles que se atrevem a se comunicarem, preferem “ficar na sua”.
            A decisão de expressar a sua opinião termina sendo um exercício de coragem, o que não precisaria ser. Vejam só quantas coisas acontecem:
            Se você escrever alguma matéria, falando do romantismo, do amor, da paixão, da relação a dois, alguém vai achar que você está envolvido em algum processo de paixão no momento e vai afirmar esse seu achismo como verdade.
            Se você escrever sobre os obstáculos que existem nos relacionamentos íntimos entre as pessoas, alguém vai achar que você está “amando” e que existem pessoas criando obstáculos a você.
            Se escrever, por exemplo, contra as discriminações e agressões que fazem contra os homossexuais, alguém vai achar que você é homossexual. Por isto muita gente tem medo de defender os homossexuais.
            Se escrever denunciando os abusos da ju$ti$$a brasileira, alguém vai achar que você está envolvido com a justiça, que deve ter feito alguma coisa errada, cometido algum crime e “com certeza” (afirmam assim) está seriamente comprometido com a justiça.
            Se em algum texto seu, você reconhecer coisas boas no governo Lula, alguém vai achar que você é um fanático do PT e os inimigos do Lula lhe baixarão o cacete.
            Se, por outro lado, criticar alguma coisa do mesmo governo, aí serão os fanáticos do PT que acharão que você é inimigo do Lula.
            Se escrever algo criticando as mulheres mercenárias que exploram os maridos, que são interesseiras, alguém vai achar que você está vivendo isto em seu lar, que você tem uma mulher desse tipo e que é machista.
            Se escreve contra os abusos que os adolescentes fazem, nos dias de hoje, em relação aos seus pais, faltando com o respeito, sendo indiferentes, frios, insensatos, saindo e entrando em casa a hora que querem, sem dar satisfação a ninguém, usando as suas mães apenas como se fossem empregadas domésticas, como fazem muitos jovens, alguém vai achar que você tem um adolescente desse tipo dentro de casa e está desabafando.
            Se escreve comentando alguma novela da televisão, alguém vai achar que você não faz nada na vida e passa o dia inteiro diante da televisão vendo novelas.
            Se é uma mulher que escreve falando da liberdade feminina, contra as pessoas que maldam o sexo e o vê como pecaminoso e imoral, alguém vai achar que ela é uma mulher vulgar, promíscua e, na linguagem bem popular, “galinha”.
            Se escreve contra a pouca vergonha de alguns advogados, juízes, trabalhadores dos fóruns, alguém vai achar que você está generalizando, chamando todos os advogados, juízes, desembargadores e demais profissionais da justiça de safados, o que não é verdade.
            Se você não pratica a falsa humildade, a mania de querer se apresentar ao mundo como se fosse evoluído espiritualmente e utiliza-se de expressões sinceras, enérgicas e palavras duras alguém vai achar que você está desequilibrado, perturbado, conturbado, destemperado e que está faltando com a compreensão às falhas dos outros.
            Se escreve protestando contra os desmandos políticos, a corrupção e a safadeza política, alguém vai achar que no fundo você tem pretensões políticas e haverá até quem apostará que nas próximas eleições o seu nome aparecerá como candidato.
            Se escreve discordando contra uma manifestação insensata de um boato bobo que corre na internet, contra a Rede Globo, alguém vai achar que você está comprometido de alguma forma com a Globo.
            Nos Estados Unidos, por exemplo, se uma pessoa se manifestar em algum órgão de imprensa, nos dias de hoje, pedindo reflexões ao governo e ao povo americano, contra a forma como aquele país age em relação ao mundo, pela sua prepotência e abuso do seu poder bélico e econômico, certamente por alguém achar que essa pessoa “certamente” deve estar de acordo com o Bin Laden, vão colocar o FBI e a CIA em cima dela.
            Se você escrever falando sobre os abusos, as arbitrariedades e as ditaduras que existem dentro de determinados órgãos públicos ou não, instituições, filosofias religiosas, etc. alguém vai achar que você andou fazendo besteira numa delas, andou querendo fazer o que quer lá dentro, foi mandado embora ou expulso, e por isto está com raiva e falando “mal”.
            Se escrever defendendo a mulher, nesta questão machista cultural ridícula que diz que o homem “pode tudo”, inclusive ter casos fora de casa, e ela não; postar-se a favor dos direitos iguais e afirmar que se ele se julga tendo esse tipo de direito ela também tem o mesmo direito, alguém vai achar que você tem tendência para “corno” ou é.
            Gente! É impressionante como as pessoas tiram conclusões com base em achismos. É impressionante como colocam esses seus achismos com sendo verdades.
            Estou querendo escrever uma matéria elogiando a EMBRATEL por essa sua coragem inédita de não querer praticar aumentos nas tarifas de telefonia, porque de fato é um absurdo, e quem conhece os verdadeiros custos deste tipo de tecnologia sabe muito bem que não há razão nenhuma para aumento no país, nesta área, mas fico com receio, porque certamente alguém achará que eu estou sendo comprado por ela para fazer propaganda sua.
            Outro dia recebi um E-mail, que também andou circulando pela internet, alertando para ter cuidado com o Dr. Dráuzio Varela, não levando em conta as orientações dele no Fantástico, porque ele e a Globo são comprometidos com interesses americanos.
Pode, uma coisa dessa? Como é que posso deixar de considerar instruções tão sensatas, éticas, coerentes e tão úteis a uma Nação como as que são dadas por aquele homem notável, por causa do achismo de um insensato qualquer que, por não ir com a sua cara, resolve espalhar pela internet um manifesto tentando manchar a sua imagem?
(Abrindo um parênteses, para descontrair, já que falamos no doutor Drauzio, eu gostaria de saber o que é que ele come.)
            Certa ocasião cheguei em casa e encontrei minhas crianças chorando, porque uma parente desequilibrada foi à nossa casa, desligou a televisão e energicamente determinou que elas não assistissem mais a Xuxa, porque o pastor da sua igreja havia dito que a Xuxa é coisa do Satanás. Tremenda irresponsabilidade de gente de mente muito estreita. Não pude aceitar uma coisa dessa e tive que recomendar a essa pessoa que não fosse mais à minha casa.
            Estas minhas matérias vão para mais de vinte mil pessoas, de minha agenda direta, e para mais algumas outras, pela retransmissão de leitores que gostam, que acham interessantes e resolvem retransmiti-las para amigos das suas agendas. Mas, de repente, recebo alguns E-mails de gente, que não gostou, praticamente impondo que eu escreva conforme pensa a sua cabeça e não conforme pensa a minha.
            Não é um absurdo?
            Todas as opiniões devem ser bem vindas, sempre, devem ser observadas e analisadas. Devemos estar em processos de mudanças sempre, aperfeiçoando as nossas idéias, os nossos pontos de vistas, retificando coisas erradas que tenhamos escrito, no exercício da verdadeira humildade e até pedindo desculpas ao público, caso em algum momento tenhamos feito algum registro injusto, incoerente ou até maldoso.
            Todavia, deixar de considerar a opinião e a avaliação de milhares de pessoas para nos pautar conforme a cabeça de meia dúzia, ainda mais do tipo que nos querem impor pensar como elas, representa uma fraqueza de caráter e de personalidade.
            Sugiro às pessoas que têm idéias, experiências, conhecimentos e novidades boas a se expressarem a vontade, sem medo da língua de ninguém!
            E tem outra coisa: Se o assunto necessitar que você faça um texto com quatro ou cinco páginas, por favor, não vá se escravizar a essa mania do “resumismo”, que muitos exigem que você pratique, forçando colocar tudo numa página apenas. É preferível você desagradar a meia dúzia do que desagradar a milhares, obrigando-se a ter que resumir o texto, e deixar todo mundo em dúvida sobre o que você quis mesmo dizer com determinada citação, porque não pode entrar em detalhes, sendo obrigado a submeter-se às exigências do resumismo. Se eu desejo ensinar alguém a fazer uma limonada, poderei ser resumido, escrevendo apenas umas três ou quatro linhas, dizendo para espremer um limão, colocar na água e por açúcar. Não precisa mais do que isto e estará tudo bem entendido, mas para outros assuntos isto não é possível.
            Sejamos sempre claros, utilizando a linguagem que possa ser entendida sempre que possível por cem por cento das pessoas que lerem, o que nem sempre é a linguagem gramaticalmente correta como querem os puristas do vernáculo.
            Não existe dinheiro que pague a alegria que você sente, ao receber não apenas um mas centenas e as vezes até milhares de E-mails dizendo:
“Meu amigo: muitíssimo obrigada pelo texto que você me enviou, que veio a esclarecer-me muita coisa, a aliviar as minhas tensões, a convidar-me a vida nova, a ter uma melhor relação com os meus e comigo mesma.”
“Passei o seu texto para uma amiga, que adorou.”.
            Viva a Liberdade de expressão! Viva a não censura! Viva a autenticidade! Viva a coragem de dizer o que pensamos!

            Carinhosamente.

            Alamar Régis Carvalho
            alamar@redevisao.net 

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