sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Intuição, um Processo Cognitivo!


Sei, de fonte segura, que há educadores que negligenciam ou até mesmo desprezam a intuição.
(…) na minha compreensão, esta forma de ver a aprendizagem é psicologicamente errada e educacionalmente nociva.
(…) a intuição não é uma particularidade aberrante de clarividentes e artistas, mas uma das duas ramificações fundamentais e indispensáveis do conhecimento.
A intuição e o intelecto são os dois processos cognitivos.
Observamos que alguns manuais de orientação a novos juízes dizem que um bom juiz deve ter bem desenvolvida a intuição. Aliás, atualmente, diante da velocidade dos negócios e da rapidez com que as decisões devem ser tomadas, é corrente a idéia de que o bom profissional é aquele que tem uma boa dose de intuição.
Há cerca de 14 anos, quando comecei a ler as obras básicas da Doutrina Espírita, freqüentemente tinha a impressão de que, de alguma forma, já tivera conhecimento das idéias e conceitos ali expostos. Logo eu que passara sete anos (dos 13 aos 19) no seminário, portanto com uma profunda formação católica apostólica romana.
Sentia-me como alguém que havia encontrado o tesouro que procurava.
Passei a prestar mais atenção e analisar os fatos da vida e, com o passar dos dias, fui tendo inúmeras provas daquilo que era exposto e esclarecido pela excelsa Doutrina.
Das muitas verdades a atestarem a procedência dos conceitos doutrinários, a intuição, cujos fatos vivenciara, foi a que mais me chamou atenção.
Intuição, palavra que vem do latim in tueri e que quer dizer olhar para dentro, possui várias conotações.    
Uma definição interessante de intuição foi dada em 1977, por Bruce Henderson, fundador do Boston Consulting Group, que a chamou de “integração subconsciente de todas as experiências, condicionamentos e conhecimentos de uma vida, incluídos aí seus vieses culturais e emocionais”.
Platão fundamenta a intuição na preexistência da alma (reencarnações anteriores), conclusão que se extrai da citação feita por Adolfo Bezerra de Menezes, em A Loucura Sob Novo Prisma, estudo psíquico-fisiológico (FEB, 8ª ed., 1993, cap. 1, pág. 19): “Antes de virmos a esta vida, já tivemos outras, e no tempo intermediário, que passamos no mundo dos Espíritos, adquirimos o conhecimento das grandezas a que somos destinados; donde essa reminiscência, a que chamamos intuição de um futuro, que mal entrevemos, envoltos no véu da carne”.
No livro Allan Kardec, Zêus Wantuil (ex-Presidente da FEB), cuidando da mediunidade atribuída ao Codificador, afirma que “a intuição é a fonte de todos os nossos conhecimentos (…)”, referindo-se aos conhecimentos que o ser angaria ao largo de todas as suas experiências anteriores (cap. 3, pág. 41).
Dentre as várias abordagens de O Livro dos Espíritos sobre a intuição, colhemos apenas a contida na questão 415, quando Kardec pergunta aos Espíritos qual a utilidade das visitas feitas durante o sono, se não nos lembramos sempre delas: “De ordinário, ao despertardes, guardais a intuição desse fato, do qual se originam certas idéias que vos vem espontaneamente, sem que possais explicar como vos acudiram. São idéias que adquiristes nessas confabulações”. (FEB, 46ª ed., tradução de Guillon Ribeiro)
E, afinal, o próprio Kardec, em A Gênese, cap. XI, “Doutrina dos Anjos Decaídos”, item 43 (FEB, 20ª ed., idem), falando das emigrações e imigrações dos seres espirituais ao largo dos tempos, afirma que alguns “são excluídos da humanidade a que até então pertenceram e tangidos para mundos menos adiantados, onde aplicarão a inteligência e a intuição dos conhecimentos que adquiriram (…)”. E, um pouco mais adiante, no mesmo item, Kardec é categórico: “A vaga lembrança intuitiva que guardam da terra donde vieram é como uma longínqua miragem a lhes recordar o que perderam por culpa própria”. Com o mesmo sentido dizem os Espíritos, na questão 393, sobre a “lembrança” (pela intuição) que os Espíritos têm de suas faltas passadas ao reencarnar.
Do exposto temos a inelutável conclusão: a intuição é o conjunto de conhecimentos próprios adquiridos ao largo das múltiplas experiências do ser, que lhe aflora à mente espontaneamente, sem necessidade de ninguém lhe transmitir nada, pois que tais conhecimentos pertencem ao seu universo peculiar e subjetivo de conhecimentos.
Estudos científicos afirmam que o processo intuitivo ocorre em frações de segundo: o hemisfério direito do cérebro recebe um sinal, que pode ser um odor, uma visão, um sonho ou apenas uma sensação, e produz uma interpretação. As mensagens da intuição chegam o tempo todo ao cérebro, mas a maioria das pessoas passa a vida sem se dar conta disso. Muitas aparecem em forma de sonho, outras nos dão a impressão de que a cena que se vive naquele instante já aconteceu no passado (é o propalado déjà vu). Há, ainda, quem relate ter visões do futuro, ouvir uma voz que as alerta, ou sentir uma dor em determinada parte do corpo, como um prenúncio de acontecimentos.
Segundo estudos feitos, assim que o lado direito do cérebro capta uma mensagem intuitiva, o esquerdo se encarrega de decodificá-la, ou seja, racionalizá-la.
Nesse momento, o cérebro libera endorfinas e neuropeptídeos, substâncias que influenciam a atividade neural. Elas se espalham por todas as áreas periféricas do corpo: nervos, vasos sangüíneos, coração, pulmões e outros órgãos. Em seguida, uma reação química é percebida por meio de um dos sentidos, a pessoa tem a impressão de ver uma cena ou de ouvir uma voz. Ou apenas tem a sensação de que algo vai acontecer. É a intuição – a voz interior segundo a psicologia.
Os indivíduos mais experientes (experiências adquiridas nesta e em outras vidas) decidem, a respeito de problemas e soluções, a partir de uma base de dados muito mais ampla do que a dos iniciantes. 
Mas como funciona a intuição, na prática? Friederich Kekulé, um grande bioquímico alemão que viveu em o século 19, certa vez teve um sonho que o levou a uma importante descoberta científica: “Virei minha cabeça e adormeci… uma vez mais, os átomos estavam cabriolando diante dos meus olhos. Dessa vez, os grupos menores se mantinham modestamente no fundo. Meu olho mental, que se tornara mais aguçado em virtude de repetidas visões desse tipo, podia agora distinguir estruturas maiores, com múltiplas conformações; longas fileiras, às vezes encaixadas mais firmemente uma às outras. Todas se dobrando e curvando-se, num movimento semelhante ao feito por uma cobra. Mas, olhe! O que foi aquilo? Uma das serpentes tinha abocanhado a própria cauda, e o conjunto rodopiava zombeteiramente diante dos meus olhos. Acordei como se tivesse sido despertado pela luz de um relâmpago…” Esse sonho o ajudou a entender como as moléculas de diversos componentes orgânicos se organizavam em uma estrutura em forma de anel hexagonal, e o tornou famoso.
Lembro que há algum tempo, instruindo um processo de crime de atentado violento ao pudor, ao ouvir a vítima, um jovem de cerca de 10 anos, muito ágil mentalmente, fui acometido de um sentimento que me dizia que a vítima estava mentindo e, em conseqüência, o réu seria inocente. Apurei a minha atenção, interroguei minuciosa e longamente a vítima, porém, em momento algum ela titubeou, ou se contradisse. Paradoxalmente, o sentimento de que havia sido acometido parecia mais exacerbado. Confidenciei o fato à promotora que oficiava no feito e ela se mostrou preocupada, principalmente diante do quadro probatório que encetava para uma condenação do réu.
Resolvemos, juntamente com o ilustre defensor do réu, que ele requisitaria uma perícia psicológica, tanto do réu, como da vítima, a qual seria deferida, prontamente, desde que arcasse com as despesas. Assim foi feito, e qual não foi a nossa surpresa, diante da afirmação dos peritos de que as pesquisas (feitas em várias sessões) demonstravam um quadro compatível com a situação de que a pequena vítima estava sendo instruída por pessoa adulta a incriminar o réu e que este, ao contrário, demonstrara personalidade incompatível com o crime que lhe era imputado. Diante das conclusões dos peritos e da existência de denunciada rixa, entre a mãe da vítima e o réu, a solução foi a de absolvê-lo.
De outra feita, nos chegou à mesa de julgamento, um caso em que o réu era acusado de cinco estupros. Ao interrogar o réu, no primeiro processo (para cada crime havia um processo), embora o réu não tivesse alegado nenhum álibi, ou condição especial a afastar a imputação, ocorreu-me que o réu seria inocente. Como a promotora que oficiava no feito é muito espiritualizada, resolvi confidenciar o pressentimento de que havia sido acometido. É óbvio que a ilustre promotora mostrou-se reservada, dizendo um simples “vamos aguardar a instrução”. Em face daquele pressentimento, determinei o apensamento de todos os processos contra o réu, para ter uma visão do conjunto das ações e, quem sabe, descobrir alguma coisa que justificasse aquela idéia preconcebida. Não foi difícil descobrir que dois dos estupros aconteceram, à mesma hora, e em bairros distantes, o que configurava relevante indício de que, em pelo menos um dos processos, o réu era inocente. Diante da ocorrência, resolvi instruir rapidamente todos os processos, já que o réu se achava preso. Na instrução, em um dos processos, o réu logrou comprovar que estava viajando, com bilhete de passagem e prova testemunhal; em outro, a vítima, depois de exaustivamente inquirida e diante das inúmeras contradições, acabou por confessar que havia sido instruída por um policial a acusar o réu, do estupro, e que este mesmo policial havia levado o réu a sua casa para que o conhecesse, antes do reconhecimento formal, na delegacia. Em outro processo, o pai da vítima era amigo do mesmo policial e tivera uma quizila com o réu. No quarto caso, a vítima e seus representantes já nem compareceram em juízo a fim de prestar depoimento, terminando a própria promotoria por pedir a absolvição do réu em todos os processos, já que, no quinto, também não havia provas suficientes a fundamentar uma condenação. Posteriormente, ficamos sabendo que o tal policial, muito tempo antes das acusações, tivera um desentendimento com o réu, que não lhe permitira ocupar uma das casas de um conjunto habitacional particular, do qual estava encarregado cuidar, motivo pelo qual teria jurado vingança.
A intuição, portanto, embora não suficientemente explicada e entendida pela ciência, é reconhecida e apreciada em todos os campos da atividade humana. A insipiência do seu conhecimento se dá justamente porque a ciência pretende explicá-la como conjunto de reações químicas que se dá no cérebro da pessoa, esquecendo-se da dimensão espiritual do ser humano.
Para utilizá-la em nossas atividades basta que atentemos para sua ocorrência, de maneira a aperfeiçoá-la cada vez mais. Controlar a respiração, manter o nível de freqüência cerebral médio abaixo de 17 Hertz, o chamado estado alfa, exercícios de respiração, ioga, aikido, entre outras práticas, ajudam a aumentar e desenvolver a intuição e, obviamente, o estudo e a pesquisa contínua a fim de aumentar a nossa base de dados, nos farão aumentar a intuição daquele tipo que é cientificamente aceito.
(Rudolf Arnheim, in Intuição e  Intelecto na Arte)
Bibliografia:
GABILAN, Francisco Aranda. O Reformador, nº 760, maio de 2000, artigo “Intuição ou Inspiração?”.
ARNHEIM, Rudolf. Intuição e Intelecto na Arte. Tradução Jefferson Luiz Camargo. Martins Fontes, São Paulo, 1989.
DAY, Laura. Intuição: como Utilizá-la para o Sucesso. Tradução Marija C. Mendes. José Olympio,  Rio de Janeiro, 2000.
PRAAGH, James Van. O Despertar da Intuição. Tradução Ebréia de Castro Alves. Sextante, Rio de Janeiro, 2003.
--------Jorge Luiz Tadeu Rodrigues (MT)---------

Referência: 3ª Edição da Revista ABRAME.

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