É o homem, por sua própria vontade, quem forja as próprias  cadeias, é ele quem tece, fio por fio, dia a dia, do nascimento à morte,  a rede de seu destino.
Léon Denis ([1919]1987:168) 
Diante  de acontecimentos desagradáveis no dia a dia, logo responsabilizamos a  fatalidade e o destino, sem fazermos uma maior reflexão. Mas, será que  tudo em nossa vida está predeterminado? Será que o nosso destino foi  traçado? Como entender fatalidade na visão espírita?
Lemos nos  dicionários que fatalidade é a qualidade de fatal. E que fatal é o  determinado, o marcado, o fixado pelo destino. Ou seja, é a atuação de  uma força maior a nos submeter a acontecimentos que independem de nós e  dos quais não se pode escapar. Precisamos refletir e ver outros pontos  importantes em torno desses conceitos. Sendo a nossa intenção analisar o  assunto dentro da visão espírita, vejamos o que nos diz “O livro dos  Espíritos”; nele nós lemos: “A fatalidade, como vulgarmente é entendida,  supõe a decisão prévia e irrevogável de todos os acontecimentos da  vida, qualquer que seja a sua importância. Se assim fosse, o homem seria  uma máquina destituída de vontade” ([1857]1999:285). Concordamos com  essa afirmativa, pois não nos vemos como máquinas. E se tudo já  estivesse escrito, ninguém seria responsável por falta alguma, nem tão  pouco teria mérito por coisa nenhuma. Seríamos meros fantoches e  estaríamos à mercê do destino, o que nos parece incompatível com  conceito de Justiça Divina que os espíritos nos apresentam.
Fatal, na  verdadeira acepção da palavra, só o fato de que vamos um dia  biologicamente morrer, pois, quanto às outras coisas, a cada momento  estamos transformando. Entendemos que o destino é quase sempre a  conseqüência de nossas atitudes mentais e comportamentais, das escolhas  que fazemos utilizando o nosso livre-arbítrio. E esse raciocínio  encontra explicação n“O Livro dos Espíritos”, no qual a espiritualidade  diz: “Não acrediteis, porém, que tudo que acontece esteja escrito como  se diz. Um acontecimento é quase sempre a conseqüência de uma coisa que  fizeste por um ato de tua livre vontade, de tal maneira que, se não  tivésseis praticado aquele ato, o acontecimento não se verificaria”  (1999:281).
Contudo, fatalidade não é uma palavra vã, ela existe no  gênero de existência que nós escolhemos como prova, expiação ou missão,  antes de reencarnamos, pois existem escolhas quase impossíveis de serem  alteradas, como as doenças congênitas, por exemplo. Conforme lemos na  questão 851 também de “O Livro dos Espíritos” (1999:279):
“A  fatalidade só existe no tocante à escolha feita pelo Espírito, ao se  encarnar, de sofrer esta ou aquela prova; ao escolhê-la, ele traça para  si mesmo uma espécie de destino, que é a própria conseqüência da posição  em que se encontra”.
Através do uso de nosso livre arbítrio, temos a  liberdade de alterarmos, aproveitando ou não estas escolhas feitas  ainda na espiritualidade, pois tanto podemos aproveitar através da  resignação e da superação, quanto podemos nos revoltar perdendo assim a  oportunidade de aperfeiçoamento que estamos vivendo.
O Espiritismo  nos ensina a ver nos acontecimentos negativos e perturbadores muito mais  que fatalidade e destino; ensina-nos a ver a conseqüência de nossas  escolhas equivocadas, não apenas de outras encarnações, mas, também, de  nossa atual encarnação. Ensina, ainda, que por mais difíceis que se  apresentem as situações, nós somos senhores dos nossos destinos, que  podemos com o nosso livre arbítrio alterarmos as nossas escolhas para  trazermos o melhor para nossa existência. Como nos diz o orador espírita  Divaldo Franco: “Você é o que fez de si, mas você será o que faça de  você”.
Por: José Antonio Ferreira da Silva