Está em tramitação na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei (PL)
3041/11, que torna obrigatório a todas as escolas comunicar ao
Ministério Público (MP) os casos de alunos menores de idade que não
tenham o nome do genitor especificado no documento de identificação. De
acordo com o projeto, de autoria do deputado Alessandro Molon (PT-RJ), a
não comunicação ao MP implicará, no caso de estabelecimentos
educacionais da rede pública, sanções administrativas previstas no
Estatuto do Servidor Público (Lei 8.112/90), tais como advertência,
suspensão e demissão de agentes e funcionários. Já para as escolas
particulares, a previsão é de multa de até dez vezes o valor da anuidade
do estabelecimento para cada notificação não realizada.
No dia 1º de março, a proposta foi recebida pela Comissão de
Seguridade Social e está sob análise da relatora Célia Rocha (PPB/AL).
Segundo Mara Marino Perez, assessora da deputada, a relatora aguarda o
parecer da consultoria legislativa para, então, proferir seu voto. A
assessora também informou que em razão da importância do tema existe
grande chance de a deputada ser favorável, pois ela defende que é
direito de toda criança conhecer sua origem para construir sua
personalidade.
Realidade brasileira
De acordo com o Censo de 2009, mais de 4.8 milhões de estudantes
brasileiros matriculados naquele ano não possuíam o nome de pai na
certidão de nascimento, dos quais 3.853.972 eram menores de 18 anos.
Dois provimentos foram expedidos pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
para dar cumprimento à Lei 8.560/1992, com alterações promovidas pela
Lei 12.004/2009. Ambas regulam a investigação de paternidade dos filhos
havidos fora do casamento. O Provimento 12/2010, conhecido como Pai
Presente, estabelece que as corregedorias dos Tribunais de Justiça tomem
providências para averiguar a paternidade de estudantes da rede
nacional de ensino. Em 19 de março, o CNJ divulgou que, de acordo com
informação de 15 tribunais de Justiça dentre os 27 estados brasileiros,
9.851 reconhecimentos de paternidade foram realizados desde a expedição
do provimento em agosto de 2010.
Apesar de dificuldades como a falta de pessoal e estrutura
informatizada, secretarias de Educação de alguns estados e municípios já
cumprem o provimento e passaram a fazer parcerias com instituições de
ensino. É o caso da Escola Estadual Euclides Bezerra Gerais, na cidade
de Paranã, em Tocantins. De acordo com a servidora da escola, Rosânea de
Almeida, a instituição notifica ao MP os casos de alunos que não
apresentam o nome do pai no documento de identificação. O promotor de
Justiça Sidney Fiori, coordenador do Centro de Apoio Operacional da
Infância e Juventude do MP/TO, explicou que muitos membros da entidade
participam de redes de proteção e garantia dos direitos de crianças e
adolescentes. Com isso, algumas parcerias são feitas entre o órgão com
as escolas, conselhos tutelares e instituições que atuam na área da
infância e juventude.
O promotor acredita que o PL 3041/11 será relevante porque dará
subsídios ao MP para que inicie o processo de investigação de
paternidade dos estudantes, partindo da compreensão de que "o
reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo,
indisponível e imprescritível, conforme assegura o Art. 27 do Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA)". Sidney Fiori defende que o não
reconhecimento da paternidade pode trazer diversos prejuízos ao
desenvolvimento de crianças e adolescentes, uma vez que "os coloca em
situação de constrangimento e de privações no campo do Direito de
Família, interferindo diretamente no seu direito à dignidade e à
convivência familiar".
A cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais, também é exemplo. Maria
das Mercês de Souza, vice-diretora da Escola Estadual Cássio Vieira
Marques, contou que no final de 2011 a Secretaria Municipal de Educação
enviou um relatório à escola para ser encaminhado a todas as mães de
alunos que não tinham o nome paterno presente na identificação. As mães
preencheram o documento, que foi devolvido para a Secretaria. Eleuza
Barbosa, secretária municipal de Educação do município, explicou que
este procedimento começou a ser realizado por iniciativa da Promotoria
de Justiça de Juiz de Fora naquele mesmo ano. Com a parceria acertada, a
Secretaria fez um mutirão e, através de dados do Cadastro Único para
Programas Sociais do Governo Federal, conseguiu ter acesso à
documentação de crianças pertencentes a famílias de baixa renda. Eleuza
acreditava que nesta faixa da população encontraria maior número de
crianças sem pai registrado.
A Secretaria também mobilizou os diretores das escolas municipais e
estaduais pedindo que colaborassem buscando os alunos que não tinham o
nome do pai na certidão de nascimento. Atualmente, os formulários já são
entregues para as mães automaticamente no ato da matrícula quando é
constatada a ausência do nome do pai no registro. A Secretaria de
Educação já conseguiu encaminhar ao MP cerca de 300 casos. Porém, de
acordo com a promotora de Justiça Samyra Ribeiro, a região apresenta uma
estimativa de 7 mil crianças sem paternidade reconhecida. A promotoria
realizou uma campanha para incentivar que as mães das crianças fossem
até o MP colaborar com as investigações ou até mesmo que os pais
fizessem o reconhecimento espontaneamente. Segundo a promotora, muitos
pais já assumiram seus filhos desde o início da ação. Entretanto, de
acordo com ela, por falta de recursos humanos não há possibilidade de a
Promotoria dedicar mais tempo às investigações, nem tampouco fazer uma
contabilidade de quantas paternidades já foram reconhecidas até então.
Procedimentos
Raquel Pacheco, promotora de Justiça da Coordenadoria de Defesa dos
Direitos das Famílias do MP/MG e membro do IBDFAM, explica que após o
recebimento dos relatórios encaminhados pela Secretaria de Educação, as
mães dos alunos são chamadas à Promotoria de Justiça e convidadas a
identificar o nome do pai. Uma vez identificado, ele é convidado a
comparecer na Promotoria para dizer se, espontaneamente, reconhece a
criança ou se deseja fazer o exame de DNA. Caso o pai não compareça ou o
reconhecimento não seja feito consensualmente, é iniciada uma ação
judicial de investigação de paternidade, que pode ser intentada pelo
próprio promotor de Justiça. Providências extrajudiciais podem ser
tomadas como, por exemplo, uma realização de exame de DNA.
Infraestrutura
De acordo com o promotor Sidney Fiori (MP/TO) a falta de
infraestrutura das escolas tem prejudicado o trabalho dos gestores
educacionais. Nesse sentido, o que precisa ser mais discutido refere-se
exatamente ao fluxograma operacional que deverá decorrer caso o PL
3041/11 seja aprovado. Para ele, o disposto no projeto poderia ser um
instrumento a mais no sentido de impor que o Estado, nas suas esferas
federal, estaduais e municipais, assegure as condições necessárias para o
alcance dos objetivos propostos e desenvolvimento pleno de uma educação
de qualidade.
É o que pensa a promotora Raquel Pacheco. Para ela, o Governo deve
implementar políticas públicas necessárias ao cumprimento da proposta,
como já deveria ter feito em relação ao cumprimento do Artigo 12º,
inciso VII, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. "Penso que as
escolas devam criar mecanismos de efetivação dessa norma, caso venha a
ser lei, até porque alegar falta de condições materiais para cumprir uma
lei é uma saída simplista. Se não há condições, que se crie, então",
disse.
Depois de passar pela Comissão de Seguridade Social e Família, o
projeto de lei do deputado Alessandro Molon seguirá para análise e
votação nas comissões de Educação e Cultura e de Constituição, Justiça e
Cidadania. Posteriormente, a proposta segue para votação no Senado
Federal.
FONTE: Assessoria de Comunicação do IBDFAM
FONTE: Assessoria de Comunicação do IBDFAM
Nenhum comentário:
Postar um comentário